Navigate North Iceland

Over the course of seven days you will experience the serenity inside Europe’s second-largest glacier, cruise to puffin-inhabited islands, trek through the countryside on horseback, and feel…

Smartphone

独家优惠奖金 100% 高达 1 BTC + 180 免费旋转




Pequenos retratos

Naquela tarde de bolinho de chuva, Olga chamou a atenção para as minhas mãos. Disse que roer as unhas era coisa de criança e que aquilo não era mão de mocinha.

Tenho essa coisa com a aparência das minhas mãos porque são brancas demais, têm essas veias azuis saltadas e são brutalmente secas. Recentemente, pra piorar, apareceu aqui uma pinta que não é uma pinta, nem uma verruga, nem uma bolinha. É uma coisinha áspera e vermelha no deserto azul e branco da minha mão esquerda.

Pouco mais dramáticas que a pele, que as veias e que as sardas, no entanto, são as unhas que trago aos dentes desde pequena.

Nasci com as mãos na boca e nunca mais as tirei.
Chupei os dedos até os 4 anos, quando grandes calos me cobriram as juntas.
Depois, roí as unhas até que lhes passaram pimenta.
Aí comecei a arrancar pequenas lascas com a mão oposta e usar a boca para tirar apenas os pedaços mais teimosos.
Desde então as mantenho assim: pequenas, bobas e machucadas.

Eu tinha quase dez anos e houve esse dia, quando Olga, amiga da minha mãe, veio nos visitar.
Olga tinha sido Miss. Miss Joaçaba. Miss Joaçaba, Santa Catarina, Brasil.
Era muito loira, a Olga. Olhos azuis, muito magra, muito alta e princesa. E as mãos de Olga eram um sonho.

Naquela tarde de bolinho de chuva, Olga chamou a atenção para as minhas mãos.
Disse que roer as unhas era coisa de criança e que aquilo não era mão de mocinha. “Veja as minhas. Agora veja as suas…”.

Que diferença, Olga. Não tinha comparação.
E ela ainda completou: “…as suas são feias”.

Sempre foram. Hoje, em especial, são piores do que seriam se o problema fosse apenas as unhas roídas porque, além de pequenas e frias, de terem os dedos tortos e tantas sardas, ganharam rugas e uma tensão ansiosa que me retesa as articulações. Você as odiaria, Olga, mas talvez entendesse que estão assim porque são também ringue do tempo: pele de velha com unha de criança.

As pessoas lutam contra o tempo de diferentes formas. Umas brigam contra os tornozelos inchados no calor dos 37°. Outras, contra pêlos em lugares indevidos ou um sistema de fígado/estômago que já não digere bem o alho. Eu luto contra as mãos porque, em mim, é nelas que o tempo corre mais rápido. É também com elas que luto para pegar os anos pela garganta — uma batalha perdida. De deserto branco, azul e vermelho ainda querem ser mar, teimosas contra o inevitável.

Mas elas estão no caminho, Olga: ativas e satisfeitas na maior parte do tempo. Ganharam uma tendinite e continuam invejosas dos dedos longos e de unhas compridas que veem em outras mãos femininas. Reparo muito nisso, com foco em atendentes de banco ou supermercado que teclam com mãos hábeis, enfeitadas, esmaltadas e orgulhosas, iguais as suas. Talvez se sintam, todas elas, tão pequenas, bobas e machucadas quanto eu e, mais espertas, escondam os indícios de suas dores em lugares menos evidentes.

Nas minhas mãos, entretanto, contra a minha vontade, seguem expostos os anos, meus defeitos, medos, ansiedades e feridas. Dizem de mim e contra mim, mas só dizem verdades — “nisso, levam vantagem”, penso. Não enganam ninguém.

Talvez tenha sido isso o que você tenha tentado me dizer lá atrás: que ninguém deve se mostrar tanto em verdades inconscientes.
Entendo, mas não evito. Sigo denúncia de mim mesma.
Paciência, Olga. Paciência.

Add a comment

Related posts:

The Whispers of Winter

Every single time I sit to write, there is a question that pops up in my mind. Why do I write in the first place? Is it for me, or someone else? For a very long time, my answer toggled between either…

PrimeStone in a Nutshell

In the following text, a glimpse into the unique characteristics of the PrimeStone Project will be provided. I am Polina, and I would like to tell you a few words about the PrimeStone project…

Texto das palavras completas

Dizem que com o tempo as lembranças costumam sumir, as histórias do passado dão espaço para o presente e as novas aventuras. Poucas das aventuras e recordações do passado irão voltadas a atormentar…